Nos últimos anos, o Brasil tem presenciado um crescimento expressivo das chamadas BETs – casas de aposta esportiva e jogos online de azar, como o “Tigrinho”. Com a disseminação das tecnologias digitais e a popularização do acesso à internet, esses jogos tornaram-se uma presença constante na vida de muitos brasileiros. Ao mesmo tempo, essas práticas vêm gerando debates sobre seus efeitos sociais e econômicos, especialmente no que diz respeito aos jovens e aos chamados “nem-nem”, aqueles que nem estudam nem trabalham.
A Explosão das Casas de Aposta no Brasil
As BETs se tornaram uma grande febre no Brasil, especialmente a partir de 2018, quando houve a regulamentação parcial desse mercado. Isso permitiu que muitas empresas internacionais e locais passassem a operar legalmente no país. A facilidade de acessar esses sites, aliada às propagandas massivas em plataformas de mídia, trouxe a aposta esportiva para o cotidiano do brasileiro comum. Essas plataformas oferecem a possibilidade de apostar em eventos esportivos, como futebol, basquete, tênis, entre outros, atraindo especialmente os fãs de esportes.
Além das apostas esportivas, há os chamados “joguinhos” de azar, como o “Tigrinho”. Esses jogos são caracterizados pela sua simplicidade e pelo apelo visual, além de serem extremamente acessíveis. Mesmo que as apostas envolvam valores baixos, a rapidez com que os resultados são obtidos e a ilusão de controle podem fazer com que os jogadores apostem repetidamente, resultando em grandes perdas financeiras.
Impactos na Economia Brasileira
A legalização e o crescimento das casas de aposta trouxeram algumas vantagens econômicas, como a geração de empregos no setor de tecnologia e marketing, além da arrecadação de impostos. Com a regulamentação completa das apostas esportivas e dos jogos de azar o governo viu a oportunidade de arrecadar mais para equilibrar o rombo fiscal que já chega aos 1,138 trilhão divulgado pelo Banco Central em agosto.
No entanto, a questão é complexa. Por um lado, as BETs podem estimular o crescimento econômico ao gerar novos negócios e investimentos. Grandes empresas internacionais entraram no mercado brasileiro, criando patrocínios esportivos, como na série A do Campeonato Brasileiro, além de parcerias com clubes de futebol e atletas.
Por outro lado, há preocupações legítimas sobre os efeitos nocivos dessas práticas. Muitas vezes, a proliferação dos jogos de aposta leva a problemas financeiros entre os jogadores, que podem ser induzidos a gastar mais do que possuem, na esperança de “recuperar” o dinheiro perdido. Essa ilusão de enriquecimento rápido fácil pode levar ao endividamento e, em casos extremos, a transtornos psicológicos, como o vício por apostas.
Efeitos Sociais: A Vulnerabilidade dos Jovens
O descontrole com apostas esportivas e jogos de azar tem impactado ainda mais o grupo de jovens adultos, especialmente os chamados “nem-nem” – aqueles que nem estudam nem trabalham. São pessoas com dificuldades econômicas e falta de perspectivas, o que os torna mais vulneráveis à promessa de ganhos rápidos e fáceis. Eles enxergam a apostas como uma válvula de escape e a tentativa desesperada de conquistar renda, porém muita das vezes resulta em um ciclo de perdas e endividamento com a tentativa de “recuperar” o dinheiro investido.
A atuação de influenciadores digitais e campanhas publicitárias massivas nas redes sociais atinge diretamente esse público, que está mais suscetível à tentação de “enriquecimento rápido”. A consequência é um aumento do vício em apostas entre os jovens, o que impacta negativamente sua saúde mental e suas perspectivas de futuro.
BETs e Beneficiários do Bolsa Família
O aumento das apostas online e dos jogos de azar também tem reflexos sociais mais amplos. De acordo com recente levantamento feito pelo BC, entre janeiro e agosto os brasileiros cadastrados no programa enviaram em torno, R$ 10,5 bilhões e cerca de R$ 147 por mês para casas de aposta, sendo que, apenas em agosto desse ano foram transferidos por meio do pix R$ 3 bilhões para as “BETs”, ainda de acordo com o Banco Central em torno de 24 milhões de pessoas já tenham feito pelo menos uma transferência através do pix para uma empresa de aposta. Estima-se que a maior parte dos apostadores tem entre 20 e 30 anos de idade e quanto mais velho são, maiores os valores das apostas, passando de 3 mil reais mensais para os com mais idade.
Um programa de transferência de renda feito para amenizar o impacto da concentração de renda nas mãos dos mais ricos, e auxiliar no custo de vida das famílias vulneráveis tem sido direcionado para as BETs pelos próprios beneficiários do programa.
Considerações Finais
O crescimento das BETs e dos jogos de azar online no Brasil embora apresente algum benefício econômico, como a geração de empregos e arrecadação de impostos, os efeitos negativos são catastróficos sociedade, especialmente sobre os jovens nem-nem, e as famílias vulneráveis, havendo diversos relatos sobre pessoas que se endividaram e cometeram suicídio. A regulamentação adequada, aliada a campanhas de conscientização e programas de tratamento para o vício, será essencial para equilibrar os benefícios e minimizar os riscos que essa prática crescente impõe à sociedade brasileira.